terça-feira, 2 de agosto de 2011

O SILÊNCIO DOS PRÓ- VIDA

Tem me causado muita estranheza o silêncio dos autodenominados, intitulados movimentos em defesa da vida, pró- vida, da familia. Nesta época no ano passado tais movimentos estavam num alarde só com marchas e campanhas contra a candidatura à presidência da senhora Dilma Rousseff e da aprovação do 3º PNDH ( Programa Nacional dos Direitos Humanos), pelo congresso brasileiro, o que viam como uma bolivarização ou comunização do Brasil e um atentado à vida, aos valores ocidentais cristãos e à familia brasileira, num velho retrocesso e surrado discurso pré 31 de março de 1964.
Talvez o silêncio destes setores se deve à derrota que tiveram no Supremo Tribunal Federal, onde os magistrados os traíram ao homologar as uniões homoafetivas.
Mas o que me causa estranheza e fascínio, é a omissão dos pró- vida diante dos ataques diários em que a vida humana é atacada,principalmente da população mais pobre e excluída do nosso país e do mundo. É fácil falar em aborto, casamento gay, pois são assuntos secundários que chamam atenção da mídia, tocam nos sentimentos das pessoas ,como o caso do aborto ou a curiosidade em relação ao casamento gay. Um assunto que todos nós já temos uma opinião formada sendo contra ou a favor.
Mas não vejo alarde em relação a questões importantes, como a violência normativa, a concentração de renda, de terra( urbana e rural), destruição da natureza e os conflitos pela água. A violência que atinge as populações das favelas e bairros pobres; o tráfico de drogas que mata os nossos jovens, adolescentes,crianças, encontradas em qualquer esquina e comercializadas livremente à luz do dia; nossos jovens já estão com o veneno nas veias, vidas, famílias e comunidades destruídas pelo consumo, a prostituição infanto-juvenil,os homicídios praticados pela polícia e o narcotráfico.
Trabalhadores rurais assassinados pelo agronegócio, familias camponesas, indígenas e quilombolas expulsos de seu chão pelos grandes empreendimentos agrícolas, que envenenam a vida de agricultores e consumidores.
A morte de moradores de rua,crianças em frágeis barracos de acampamentos e casebres,de pacientes nas filas do SUS ( Sistema Único de Saúde) dos hospitais, lotados e sucateados no atendimento médico, além de um sistema prisional que forma criminosos em vez de ressocializar os que caíram no mundo do crime.
O ex- presidente uruguaio,de centro direita, agnóstico e colorado Julio Maria Sanguinetti( 1986-1990), fala " que é violação dos direitos humanos pessoas dormirem nas calçadas,morrerem nas filas dos hospitais e de fome ou frio".
Mas não vejo os pró- vida denunciarem estas graves violações dos direitos humanos,pois para eles a morte dos pobres é normal, necessária, pois nós não são consideradas pessoas, a não ser números de estatísticas que aparecem nos relatórios e telejornais.
Olham a nossa desgraça através das páginas policiais dos jornais, da tela da TV nos telejor nais( JN,Datena, Boris Casoy, Lasier Martins), da vidraça de suas casas, e do parabrisa de seus confortáveis automóveis.
Quando a violência os atinge reclamam da inércia do Estado, que não resolve o problema. Ficam calados quando uma mulher da alta sociedade e do seu meio aborta numa clínica particular,ou que crianças pobres morrem de fome,desnutridas,nas filas do atendimento médico no colo de suas mães, de frio ou de bala perdida.
Nunca vi os pró- vida nos bairros pobres, favelas, acampamentos, denunciando as violações diárias dos direito à vida dos mais pobres. Elogiam Madre Teresa de Calcutá, São Francisco e Santa Clara de Assis, Felipe Neri, Camilo de Lellis, mas não fazem como eles, ir ao lugar do pobre, lavar, limpar as suas feridas.
Pois isso não dá ibope nem manchete ninguém, isso que me causa mais estranheza diante da omissão dos pró- vida. Devemos, sim, defender a vida da gestação até a morte natural, para isso é necessário fazer algo, como combater os mecanismos que geram a morte de milhares de seres humanos. E nos vem o convite de escolha:
" Escolhe,pois, a vida" ( Dt 30, 19), De que lado estamos?

Júlio Lázaro Torma


" O pão dos indigentes é a vida dos pobres;
aquele que lhe tira é um homicida"
(Eclo 34,25)